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terça-feira, 30 de março de 2010

A paz no barraco

Há frases que nos tocam fundo. Num desses e-mails repassados em cadeia, um dia eu li “não se altere por situações sobre as quais você não tem nenhum controle”, e quis sinceramente mudar. Impaciente, esquentada e bateu-levou por natureza que sou, a frase me fez repensar minhas atitudes.
Passei a me fazer as três perguntinhas mágicas cada vez que me deparava com alguma encruzilhada. Quando vai acontecer? Eu posso resolver sozinha, ou depende de mais gente? É realmente tão importante assim?

As duas primeiras perguntas são questões objetivas, rápidas de responder. Mas saber se, afinal de contas, o motivo de nossa dúvida ou insegurança faz realmente tanta diferença é que coloca à prova nossa capacidade de mudar.

Incorporei a idéia de que não vale a pena perder o sono sobre o que ainda não aconteceu, sobre o que não depende de mim e sobre aquilo que, na verdade, nem tem tanta importância, e reconheço que passei a viver melhor. Selecionando o que tinha ou não o poder de me tirar a paz de espírito, eu comprovei que quase nada do mundo material é tão essencial.

Só que, como tudo que é demais acaba virando rotina, há momentos em que é vital subverter nossa filosofia de vida. De repente eu me vi muito Sandy, passivamente optando por não dar tanta importância assim a quase nada. Não se angustie, não se antecipe, espere mais um pouco, as pessoas tem outro ritmo, releve, ignore, conte até um milhão, seja superior...

Mas como não sou santa e paciência tem limite, nessas últimas semanas voltei a literalmente armar barracos e não ter medo de pagar pelos meus excessos. Se eu tenho que exercitar a compreensão com as pessoas, porque elas não podem também fazer o mesmo?

Não, eu não vou mais me matar de trabalhar sozinha. Não, eu não vou aceitar fazer, mais uma vez, o favor que já se acostumaram a pedir a mim, porque sou flexível. Não, eu não vou mais aceitar atraso do que tem que ser feito no prazo. Se você não soube retribuir o meu favor eu não vou mais botar na conta da justiça divina e vou te dizer com todas as letras o que eu penso disso, apelando pro Facebook se para isso eu precisar te constranger (kkkkkkkkkkkkk!). Eu não vou ficar escutando você se queixar pela décima vez no dia só porque eu te amo. Eu não aceitar de braços cruzados aquilo que eu sei que é possível mudar. Eu não vou ter mais sempre tanto pudor de dizer o que penso para os meus amigos só porque eles são meus amigos e eu não quero ficar mal com ninguém. Eu não vou fingir que já passou quando estou magoada de verdade.

Claro que, não deixando nada barato, as coisas também não se resolvem, assim, muito mais facilmente. Mas só a liberdade de ser sincera comigo mesma já me traz um tipo de alívio do qual eu andava sentindo falta.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Estrangeiro em terra própria

Nem quando eu tiver 90 anos eu vou deixar de, por vezes, me sentir uma alienígena na Terra.
A rotina da realidade é o que nos faz seguir movendo a roda da vida, como hamsters, que passam o dia ali, correndo sem refletir.
Mas homens não são hamsters, e, ainda que não interrompamos o movimento da roda, não podemos deixar de pensar por ao menos um segundo em que rumo damos à nossa vida.
De um golpe, se deixamos de mover a roda, a dúvida surge: o que eu estou fazendo aqui? Como vim parar nessa vida, nesse lugar, convivendo com essas pessoas, trabalhando disto ou daquilo, estudando pra ser isso, vivendo de maneira alternativa, não fazendo nada, ou sem saber o que fazer da vida?
Uma conversa com um amigo angustiado me fez parar a roda e questionar. Atualmente estou apaixonada. É um momento muito feliz. Mas, para nossa surpresa, nem eu, nem esse meu amigo, que também está em um relacionamento feliz, nos livramos de sentir, por vezes, que não integramos nenhum grupo, que ninguém fala nossa língua e que somos estrangeiros em nossas próprias vidas (palavras dele mesmo). E não tem amor, nem carinho e muito menos sentimento de proteção que deem jeito.
Escutando-o sem deixar de correr na minha roda, receitei-lhe um bom chá de realidade. Vai fazer o que todo mundo faz, arrume tarefas cotidianas e comuns para desempenhar, eu disse. Mas ele, bom argumentador como todo insatisfeito, me respondeu que essa rotina invisível ,“de todo dia e de todo mundo” é como uma droga que bloqueia a entrada para nossa essência mais profunda, individual, inquieta e filosofante. Uma atmosfera tão densa que, às vezes, se conseguimos tal proeza –o que de fato é, conseguir enxergar dentro da própria alma- pode custar, e doer bastante, voltar ao mundo real.
Resumidamente, ele e eu sofremos sinceramente porque nos sentimos demasiadamente sensíveis e perdidos em meio a uma sociedade que exige cada vez mais: ter sucesso profissional, ser inteligente, simpático, bonito, bom de cama e manter-se sempre jovem, casar por amor, participar ativamente da criação dos filhos e poder dar a eles de tudo, ter um milhão de amigos, uma família feliz, comprar um bom carro, uma boa casa, viajar de férias todo ano, momomomomomomo... Tudo isso sem parar de mover a tal rodinha do hamster e se perguntar se escolhemos livremente o que fazer com nossas vidas.
Daí, por consolo ou desespero, me lembrei da avó de outro amigo que se suicidou pulando da ponte aos 85 anos, e tive a sensação que ainda não vi nada.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Bichas suburbanas

Esse texto eu dedico às bichas suburbanas que, feliz ou infelizmente, cruzaram o meu caminho. Felizmente, porque com elas aprendo sobre a vida. E infelizmente, porque com elas pago um preço pela minha ingenuidade.
Não sou preconceituosa e tenho muitos amigos gays. Mas a bicha suburbana é um capítulo à parte.
Primeiro, ela se encanta por você. Te adora de cara, claro, porque, com seus singelos olhinhos de hiena, reconhece de longe o que pode obter às suas custas. Na verdade, ela quer ser/ter o que você é/tem, e trata de ganhar a sua confiança.
Ninguém te acha mais fantástica do que ela, que está sempre te botando pra cima, elogiando seu cabelo, sua atitude, suas roupas e os seus bofes, fazendo você se sentir uma supermulher.
Ela praticamente baba, fascinada, quando você conta sobre a sua vida, que é muito mais interessante que a dela própria. Ela vai estudando todos os seus trejeitos, visual e vocabulário, até que, um dia, você pensa, ainda sem nenhuma malícia: “nossa, mas como a Fulano fala e gesticula igual a mim! Acho que estamos mesmo andando muito juntas!...”
Esse reconhecimento faz você, ingenuamente, pensar que é muito querida por essa biscate enrustida, que no fundo só quer saber de te sugar.
É a pior bicha que existe, porque, além de cobra, é SUBURBANA. Vir do subúrbio, em si, não tem nada demais. Nem todo mundo precisa nascer “na cidade” pra ter educação, bom gosto e elegância. Suburbana é a mentalidade, a atitude. Ela é mesquinha, gonga todo mundo na sua frente, parece se sentir muito melhor que todo mundo, preza exageradamente o lado material das coisas. Não tem capacidade de valorizar as pessoas pelo que elas são, faz um julgamento baseado naquilo que vê. E, obviamente, valoriza a si própria na medida em que vai adquirindo bens: se sente o máxxximo quando consegue, por fim, pegar emprestada aquela sua camiseta que ela acha suuuuperfina, ou quando consegue juntar uma grana pra comprar o tênis com que todas as bichas ricas desfilam.
É incapaz de atrair pessoas com a sua própria luz e sabe disso; então, ela astutamente gravita ao redor de quem ela quer ser. A princípio só fica observando o universo da pessoa, tentando absorver alguma coisa. Logo, mais confiante, ela aprende a manipular seu objeto de desejo/inveja. O último estágio dessa “relação” é o bote, quando ela parte pra cima das suas roupas (imitando seu modelões, pegando roupa emprestada sem devolver), do seu dinheiro (pede emprestado em poucas quantidades e logo vem o maxicalote), das suas amizades e até do seu bofe. Quando chega nesse nível é que você se dá conta do maquiavelismo da bicha. Santa ingenuidade, a nossa.
Essas bichas só se aproximam de mulheres, porque são as únicas suscetíveis ao seu teatrinho de encantamento. Sabem que homens, bichas inclusive, não caem nas suas teias de aranha pegajosas, até porque a concorrência é direta e, dependendo dos casos, uma covardia: pense numa bicha fina e outra suburbana, uma do lado da outra, dá até pena! Ela precisa de exclusividade pra poder atuar, por isso arrasta a asinha de gralha pras bandas femininas. Porque, paradoxalmente, só uma mulher tem o que essa biscate mais quer e menos pode chegar a ter: uma racha.

...

Cantando pra subir: essa é bichinha é suburbana, mas é do bem:

segunda-feira, 15 de março de 2010

Insecure...


Segundas-feiras eu costumo sentir uma "pré-angústia" de algo que ainda nem comecou.
De Ron Mueck, vale a pena ver as obras dele.