Powered By Blogger

terça-feira, 29 de abril de 2008

Continho de Carnaval

Um restaurante, algo decadente. As paredes estão descascadas, mas nota-se que eram vermelhas, há muito tempo. É um lugar intimista, como se houvesse sido um piano-bar elegante em outras épocas.

Alfredo está sentado e usa um terno cinza, apesar do calor escorchante do meio-dia. Seu físico o deixa elegante, já que é alto e magro. Está comendo e tomando um chopp. Ao final da refeição começa a palitar e chupar os dentes, olhando para o vazio.

Paula chega procurando por Alfredo. Aparenta ter 30 e tantos anos. É uma mulher comum, muito branca, cabelo curto, usa óculos de armação retangular. Está de vestido e sandália rasteira, abanando-se com um leque. Pergunta a Alfredo:

PAULA

Por que você não atende o celular?

Sem deixar o palito, Alfredo responde a Paula:

ALFREDO

Não seja paranóica. Tem certeza de que estava ligando pra mim?

PAULA

Mas é muito cara-de-pau, mesmo! E largue esse palito nojento agora!

ALFREDO

E por que você se incomoda com isso?

PAULA

Porque é muita falta de educação palitar os dentes. Não teve mãe, é?

ALFREDO

O que você veio fazer aqui, afinal de contas, nervosinha desse jeito?

PAULA

Olha só esse cabelo, parece que se penteou no escuro! Como se não tivesse espelho em casa!

ALFREDO

Escuta aqui, minha filha, por que você não vai ver se eu estou na esquina?

PAULA (alterada)

Porque estou grávida, imbecil, e tenho medo de pensar em quem vou botar nesse mundo, sendo seu filho!

ALFREDO (engolindo em seco)

E como você sabe que é meu?

PAULA

Porque faz três meses que dormimos juntos todos os dias!

ALFREDO

…Bom, mas eu não sei o que você faz quando eu saio pra trabalhar...

PAULA

Você sabe muito bem que eu passo o dia em casa, esperando por você!

ALFREDO

Ah, é?... Então prove.

PAULA

Sempre que você chega, tem comida feita. Saída do forno para a mesa.

ALFREDO

Isso não faz de você uma santa.

PAULA

Além de idiota e mal-educado, você também é burro? Meu Deus o que vai ser dessa criança?

ALFREDO

Não me chame de burro na frente dos outros!

PAULA

Eu te chamo do que eu quiser, na frente de quem quer que seja!

ALFREDO (agarrando Paula pelo braço)

É melhor você baixar o tom, sua p...!

Nisso passa José pela janela, vê os dois e resolve entrar. Está de camiseta, shorts e chinelos. É um tipo mulato, gordinho e baixinho, que tem um dente de ouro na boca e cara de emaconhado. Pergunta:

JOSÉ

E aí, meu povo, como vai essa força?

ALFREDO

Tudo ótimo, meu chapa! Senta aquí com a gente.

JOSÉ

Opa.

JOSÉ

Que cara de poucos amigos é essa, Paulinha?

ALFREDO

Ela bebeu um pouquinho e já está tonta.

JOSÉ

Mas você não tinha decidido parar de beber, mulher?

ALFREDO

Como se você não conhecesse as mulheres...

JOSÉ

Claro que sim, mas que ela tá com uma cara esquisita, isso está.

Alfredo puxa José a um canto da mesa e diz em voz baixa:

Ela acabou de me dizer que tá gravida de mim.

José, surpreso, fica em silêncio uns cinco segundos, só medindo a notícia. Depois se vira para Paula, beija-a na bochecha e diz, baixinho:

Boa sorte, você vai precisar.

José vai embora. Alfredo volta a beliscar a comida, não há quase nada no prato. Paula pergunta, irritada:

PAULA

Já pagou? Tô com uma fome que Deus me livre!

Um bloco de carnaval passa ao longe, tocando marchinhas em pleno volume. Percebe-se que vai acompanhado por um monte de foliões antecipados ao calendário.

ALFREDO (lamentando de si pra si)

A dois dias do carnaval recebo a notícia de que vou ser pai e nem posso comemorar, não! Tenho é que voltar pra porra do escritório, para trabalhar feito um louco, derretendo dentro desse terno e ainda por cima agüentar essa desequilibrada!

PAULA (idem)

Ficar grávida a essas alturas do campeonato, confesso que não esperava, mas ainda em pleno carnaval, eu não mereço isso!

ALFREDO

Se você fosse mais gente boa, juro que nem voltava pra trabalhar. Mandava meu chefe à merda e só dava as caras depois da quarta-feira de cinzas. Vou ter um filho, caralho!

PAULA

É humanamente impossível parar de beber e fumar ao mesmo tempo, e principalmente enquanto eu estiver apaixonada por esse idiota. Enjôo por qualquer coisa… e ainda por cima tenho que escutar esses desocupados fazendo essa barulheira em pleno meio-dia, isso é muito pra minha cabeça!

ALFREDO

Puta que pariu, não tem nada que eu adore mais…

PAULA

A verdade é que eu não suporto…

PAULA e ALFREDO

Carnaval.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Uma oreia na F1

Trabalhei na Formula 1 aqui em Barcelona, no fim de semana passado. Foi preciso passar por um casting em pleno domingo e agüentar, por um tempo beeem longo, todo o falatório da dona da empresa que nos contratou.

Um personagem, a tal dona. Italiana crescida na Alemanha, fluente em cinco línguas (das que pude contar) e uma megera com os próprios auxiliares. Irritadíssima, grosseira e superficial nas infos mais importantes pra nós, deslumbradinhas com a possibilidade de trampar no Circuit de Catalunya.

Não, eu não era uma das modeletes (muito) bem pagas pra ficar segurando guarda-sóis em cima dos pilotos. Eu era, sim, uma oreia, que tinha que acordar às 5h30 da matina, pra poder pegar o trem das 6h30 para Montmeló (a 20 min de Barna) e de lá pegar um ônibus, ou uma carona (nós, brasucas esclarecidas, lançamos a moda do autostop) para chegar às 7h e assim não ter nenhum centavo de nosso “rico” salário descontado de maneira inclemente. Todas nós vendíamos camisetas, bonés, camisas e outros souvenires da F1 e sonhávamos com labutas de mais de 10 horas diárias para poder sacar muito $$$.

Confesso que, por um lado, foi divertido. Conheci praticamente todas as brasileiras vivendo aqui na cidade, e demos muita risada, de tudo. Amaldiçoamos todos os dias o fato de levantar com as galinhas pra só começar a cobrar umas três horas depois. Comparamos os uniformes mais bonitos (Ferrari disparado). Escolhemos as barracas mais pavorosas (a minha, de produtos oficiais de Fernando Alonso, parecia um comitê de candidatos do PSDB). Nos embasbacamos com a quantidade de $$$ gasta em bonés e camisetas que só estampavam um monte de marcas, numa espiral de consumo surreal. Uma entrada para as cadeiras custava cerca de­ 350 euros (faça você mesmo o câmbio), e tinha gente saindo pelo ladrão todo santo dia.

Não, ninguém conheceu pilotos nem mecânicos encantados. Vimos, sim, um monte de gente estranha (frikis, como dizem por aqui), consumindo sem nenhum critério e com muita avidez. Poucas mulheres, poucas bonitas (não vi nenhuma “linda”). Muitos homens, e muitos com os filhos, esses sim, umas gracinhas. Nenhum bofe-escândalo. Como se a quantidade de euros nos bolsos servisse para compensar várias outras qualidades. Muitos peões, ao menos em comportamento. Chegam sem camisa, barrigões de fora, meio bêbados, meio deploráveis. Nos dias antes da corrida, vão em bandos, levando isopores, para encher a cara e depois dormir roncando nos bosques do lugar. O que tivemos que posar para fotos, como macaquinhas de circo... e isso sem tirar o sorriso do belo rostinho.

Escutar o barulho ensurdecedor dos motores dá um certo tesão, na primeira vez. Logo, vira um pesadelo. Interessante ver os carros fazendo as voltas a toda velocidade, mas depois da quinta é entediante.

No fim, a grana é desproporcional ao esforço feito. É muito mais pelo glamour, pela experiência de ver por dentro como é uma Formula 1. Tudo muito rico, muito ostensivo, mas vazio. Never again.

Preços:

Uma camiseta Fernando Alonso (adulto): € 38

Um casaco : € 115

Um boné: € 30

Uma caneta: € 4

Uma caneca: € 12

Um expresso pequeno: € 4

Uma cerveja: € 12

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Nome de deusa, louca por Roberta Close

Shalimar, en verdad, se llama Raimundo Nonato, y tiene 22 años. No sabe dónde nació. No conoció sus padres, y no sabe decir desde hace cuánto tiempo vive deambulando por toda la Amazonia. Desde niño sabe que le gustan los hombres, y toda su vida se la ganó como chapero (michê).

Su alma es la de una mujer, pero físicamente es un travesti. No tiene tetas, pero se aprieta el pecho con unos sostenes muy ajustados. Tiene los labios gordos y un poco disformes, resultado de una tentativa mal sucedida de rellenarlo con silicona barata. Lleva ropas de mujer, faldas cortas, shorts, botas blancas, tacones y escotes, y tiene el pelo cortado a la moda de las “Charlie´s Angels”. Lleva bastante maquillaje, y tiene unos gestos bastante afectados.

Llegó a Serra Pelada hace tres años, soñando con encontrar un alma bondadosa que la aceptara como es. Se decepcionó con los tipos rudos del garimpo, pero vio que allí, al menos, podría intentar juntar dinero para un día irse. Empezó trabajando en el primero burdel del pueblo, luego pasó a “encargada”. Muchos hombres pasan por su cuarto, y algunos incluso la pagan el doble para que nadie lo sepa. Es muy discreta cuando le conviene.

Tiene carácter fuerte, pero en verdad es una persona muy dulce; le gusta complacer a los que quiere. Tiene compasión por las personas. Es su manera de dar lo que nunca recibió. Siente y mucho el hecho de no tener familia, pero no tiene rencor de nadie. Es muy conciente de su género y personalidad femenina, actúa como mujer y no intenta disimular lo que es y lo que siente. Tiene una profunda alegría en vivir. Le encanta bailar y cantar, fuma unos porritos cada cuando y se mete coca cuando quiere ser valiente, pero en general es una persona responsable, y lleva el burdel bastante bien.

Escogió su nombre cuando pasó delante de la puerta de un restaurante indio en ciudad de frontera con la Guiana. Vió la imagen de la diosa hindú Lakshmi en un cartel de un restaurante, y leyó el nombre “Shalimar”. La mujer le pareció muy exótica, y el nombre muy único, así que, a partir de aquél día, pasó a ser “la exótica Shalimar”. Sueña con viajar a São Paulo para operarse y trabajar como atracción principal de un cabaré, el cual ya lo tiene totalmente idealizado en su mente. Es fan de todas las travestis del underground paulistano, pero tiene total adoración por Roberta Close.

Rolando (o pai)

Rolando tiene unos 48 años, es alto, de porte atlético. Su pelo rubio está canoso, y lo lleva a la altura de los hombros. Tiene la piel curtida por el sol y unos ojos verdes pequeños, que desaparecen cuando sonríe.
Es hijo de inmigrantes alemanes, que llegaron a Paraná antes de la II GM. Aprendió el alemán antes del portugués, por eso tuvo dificultades para se adaptar a la escuela.

Cuando tenía 17 años se dejó tomar por su espíritu viajero- gitano, no soportó más el alcoholismo de su padre e huyó de casa. Anduvo buscando los más distintos trabajos y maneras de sobrevivir, hasta que llegó a São Paulo, por los años 1960. Conoció a Iracema en una reunión de la doctrina del Santo Daime, y tuvieron muy buen rollo. Iracema se quedó embarazada, pero Rolando resolvió dejar São Paulo en secreto. Nunca dejó de pensar en Iracema, al lado de quién descubrió un encanto por la naturaleza en su estado más salvaje, y con quien se inició en la espiritualidad.

Más que enamorado, él se sintió cómplice de Iracema. Nunca tuvo las ganas auténticas de cuidar de alguien, de constituir familia, pero al largo de su vida se sorprendió pensando en qué le había pasado a la chica del Daime, con quién compartió, aunque sin conocerla bien, secretos, miedos y deseos muy íntimos.

Después de pasar por muchos lugares en Amazonia, Rolando se instala en Serra Pelada, a principios de los 1980, a buscar oro y piedras preciosas. Ya no es el joven hambriento de alimento para el alma que fue un día, encontró su paz. Tuvo una vida muy intensa, de aventuras, de ganar y perder dinero, de dificultades, pero también de mucha soledad. Contrajo el Sida y está enfermo de muerte, por eso decide volver para morir al lado de las chicas del burdel que tanto frecuentó. Son los amores que le restan en su vida.

Sus raíces están en el vacío dentro de si mismo, que lo impulsiona hacia el mundo.

Iracema

E digo mais: 80% do que se "cria" vem de você mesmo: Iracema é o nome da minha avó. E não escolhi por acaso.


Iracema es una mujer de 40 años, ni alta ni baja, complexión normal, piel morena, pelo negro y largo. Parece haber sido guapa cuando joven, pero se nota que ha trabajado duro toda la vida. De apariencia frágil, tímida, tiene una mirada intensa pero esquiva, y encoge los hombros cuando habla con su interlocutor.

Trabaja desde sus 13 años, cuando empezó a cuidar de unos niños en una casa de familia en São Paulo, recién-llegada del interior del Estado brasileño del Acre.

Sabe leer, pero escribir, sólo el propio nombre. No habla mucho, por eso nunca la echaron de ningún sitio en que trabajó. No discute órdenes, comete pocos errores, y cuando los comete, tiene una actitud casi autista: se encierra en si misma y sólo vuelve a la normalidad después que ya se hayan calmado. No nació para hablar más que un par de frases en secuencia.

No cuenta mucho de su infancia. Sólo que vivía en un pueblo muy pequeño y que allá dejó su padre, madre y tres hermanos para trabajar en el sur. Nunca habla de su familia, pero si sabe que los padres llegaron al Acre en principios de los años 1930, huyendo de la sequía crónica del Nordeste brasileño. Su nostalgia siempre se refiere a la naturaleza, el paisaje verde y denso de su tierra. Pocas veces supo expresarse sobre esa imagen, de una selva inexplorada, que ocupa tanto espacio de su alma.

Tuvo un caso rápido con Rolando, padre de Malvina. Se conocieron en una ceremonia del Santo Daime, una doctrina religiosa en la cual el uso del Ayahuasca favorece procesos interiores o espirituales, y que creció entre la comunidad nordestina en Acre en principios del siglo XX.

Luego tuvo Malvina. Cree que su hija fue la consecuencia lógica de su encuentro con Rolando, y por eso la ama sobre todo. Siente, entretanto, que no está apta para expresar su amor en palabras, y por eso prefiere demostrarlo con actitudes de cariño a solas.

Sus raíces personales e íntimas están en la floresta.

Apresentação de personagens - Malvina

Estou escrevendo um roteiro de longametragem, trabalho final de meu curso. Essa é a protagonista. Poucas coisas na vida dão mais tesão do que criar histórias...



Malvina tiene 21 años. Es una chica de piel morena, pelo negro largo y ojos verdosos. Aunque sea físicamente guapa, ella irradia un aura de belleza interior muy fuerte. Tiene un brillo muy intenso en los ojos, y tanto hombres como mujeres se encantan con su manera sencilla y particular.

Nació y fue creada en SP. Siempre vivió con la madre, Iracema, que trabajó toda la vida en casa de familias de clase media. Tiene mucho respeto por la madre y por su figura silenciosa. Siempre se entendieron por medio de gestos, de actitudes de cariño. Uno de los recuerdos más fuertes de su madre es el de las dos, encerradas en la habitación que compartían en casa de sus patrones, después de comer. Malvina, encantada, mirando la tele con ganas de conocer todo el mundo, e Iracema, absorta en sus pensamientos que pocas veces llegó a revelar, trenzando el pelo de su hija y cantando canciones incomprensibles para Malvina, pero que la calmaban siempre que sentía ganas de llorar. Como cuando la decían bicho raro en la escuela. No tenía muchos amigos y se podía decir que andaba sola desde muy pequeña.

Nunca conoció su padre, la madre tampoco llegó a mencionarlo en alguna ocasión. Como nunca lo conoció, no lo puede llegar a extrañar, pero es cierto que su ausencia influencia la manera con que se lleva con los hombres.
Ya adolescente, su curiosidad hacia un padre es más p madre, personalidad que no puede entender por completo, pero que influencia todos los hechos de su vida. Su madre es la personificación de su mundo interior.
Fue una alumna regular, ni mala ni buena. La entusiasmaban las clases de geografía. Se quedaba fascinada con la Amazonia, sabía que era la tierra de su madre, que sus raíces estaban fincadas allá.

Empezó a trabajar a los 16 años, por iniciativa propia. A los 22 es empleada de un bar grande en el centro de São Paulo, donde hace sándwiches a la plancha para la gente que empieza muy temprano en el curro: llega a las 7h30 al trabajo, de lunes a viernes. Los fines de semana le gusta ir al parque cerca de su casa y disfrutar del silencio, ver programas de canto y baile o, cuando se siente más sociable, fuma unos porros con las vecinas “sospechosas” o va a los bailes de su barrio. En el centro, se para en la calle para ver a la gente que toca música andina, o jugando capoeira. Le gusta todo lo que la distraiga de la locura urbana. De vez en cuando conoce algún que otro chico.

No tiene una gran vida, pero intuye que las cosas cambiarán. Vive bastante ajena al mundo real, pero aún así sabe adaptarse a él. Bastante más que Iracema, por ejemplo. Es una chica urbana, criada y acostumbrada al caos de SP, pero tiene horror a todo. Su refugio es pensar en naturaleza, en verde, en los mapas hidrográficos de la bacía amazónica.

Encontrar su padre, que la cuenta dónde conoció su madre, la permite entender su mundo interior, al mismo tiempo que ella se identifica con él, en el sentido de ser una persona de espíritu libre, desproveída de perjuicios, muy conciente de sus elecciones y enamorada de la naturaleza y del mundo. Seguirá viaje por la Amazonia, en busca de rincones perdidos, donde se siente cómoda.

Malvina, minha mocinha

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Bese-moi... (f***-me)


...com um convite tão explícito à ma Cité D'amour (sim, eu estou falando disso!)...

Made in Japan - La grand odalisque, de Martial Raysse

Quando eu crescer e for morar em Paris, eu quero ser que nem ela.

A noiva




Pirei com essa obra do artista John Chamberlain. Apesar da matéria utilizada ser um carro totalmente amassado, ou seja, algo criado a partir de um ato violento, achei o resultado uma coisa tão singela, tão transcendental e tão pura... acho que representa bem o conceito de "noiva".

O Bubu

Bubu é o nome carinhoso do Centro Georges Pompidou, ou o Museu de Arte Contemporânea da França. Precisei ir duas vezes, para saborear com tempo. Vi coisas ao vivo que me levaram às lágrimas, como o mictório de Duchamp e Matisses a dar com pau, e descobri uns gênios necessários, como um certo Kupka, aí abaixo. O museu cobre mesmo um panorama muito amplo.



"A blusa romena", de Matisse, e "Romena de vestido vermelho", não sei de quem:



terça-feira, 8 de abril de 2008

A minha Paris


Eu era daquelas pessoas que achava mais chique dizer que não gostava de Paris. Não era bem desgostar, mas sim cagar pra Cidade-Luz. Não estava nos MEUS planos ir a Paris.

Como não sou totalmente imune aos apelos da civilização, acabei indo há 7 anos, pela primeira vez, com um grupo de cinco amigas, em agosto. Leia-se, foi la fin de la piqué. Não recomendo pra ninguém. Como turista, passei por todas as piores situações possíveis juntas!

Voltei à Paris agora, com menos gente, outono. Entro no metrô, cheio, como em qualquer metrópole, pessoas de várias etnias. Olhando pela janela, por todo o caminho, do aeroporto Charles de Gaulle (Gigante! Tenho loucura por aeroportos imensos) até o centro da cidade, há graffiti. Alguns bonitos, outros feios, mas uma linguagem que eu reconheço em qualquer lugar. Começa uma leve simpatia por uma Paris bem distinta daquela de cartão-postal, de torre Eiffel e de suas filas intermináveis de turistas, e muito próxima do que me atrai.

(Aqui em Barcelona também vivemos o calvário do turismo. Turistas são os desocupados que ficam andando feito lesmas na sua frente quando você tem quinhentas coisas pra fazer. Atrapalham o trânsito no metrô. Jogam os preços lá pra cima. Passam por você, em hordas de felizardos que podem sair pra tomar umas e se divertir até de manhã, enquanto você tem que chegar em casa, cozinhar e dormir, pra levantar cedo no dia seguinte. Turista é o maior paradoxo. Péssimo de ver, mas muito bom de ser!)

O graffiti me fez lembrar que, afinal de contas, eu estava em Paris!, a segunda maior cidade da Europa. Ia ver uma cultura de rua respeitável, galerias de arte underground e nem tanto, talvez deparar com uns gatinhos fazendo le parkour no meio da rua, respirar os melhores ares da moda, ver muita gente all stylez e escutar, invariavelmente, muita, muita música boa. E de fato fiz de tudo: além do que citei acima, vi Bounty Killer em um cabaré, dancei muito electro francês, me joguei no bootleg rockeiro e ainda balancei muito com hip hop beeeem oldschool!

Mas sou obrigada a admitir que, uma vez lá, é MUITO difícil fugir do roteirão-pra-gringo-ver. Paris não surgiu ontem, tem uma história de séculos, e isso é simplesmente o máximo! Quase tudo e praticamente todo mundo da civilização ocidental passou por lá. Paris surgiu no meio do rio Sena, em uma ilhazinha que começou a ser povoada por volta do ano 300! Hoje, a Île de la Cité é o centro centralíssimo da cidade, onde está, por exemplo, a catedral de Notre Dame. Juro que é impossível não se maravilhar com a beleza simples, mas imponente, daquelas torres brancas de arquitetura gótica, tão singelas e ao mesmo tempo tão sólidas, erguidas no século 14 (ainda em plena Idade Média).

Paris é fodona porque, tudo aquilo que a gente vê a vida inteira em imagens, e que formam o nosso imaginário sobre ela, corresponde a uma verdade ainda melhor do que esperamos encontrar. Paris ultrapassa o sentido de cidade, é quase humana, com suas idiossincrasias e caprichos. Respirar o ar daquela cidade tem, em todos os sentidos, um certo preço, e isso não sem motivo.

Ela é realemtente "all that": o desbunde dos Champs Elysées, do Arco do Triunfo, das vitrines Chanel (minhas preferidas), dos jardins de Luxemburgo e Tulherias, o Partenon, o Palácio do Eliseu, La Défense (Paris “moderna”, do quadradão vazado, uma passada de lindo), o Louvre-pai de todos, o Centro Georges Pompidou, xodó da cidade (Bubu!), a Sacre-Coeur (lembra o Taj Mahal), as incontáveis ruas, casas, cafés, ateliês, museus, universidades, consultórios por onde passou grande parte da intelectualidade e da arte ocidentais, e o lugar em que foram firmados os alicerces de nossos valores modernos e pós-modernos. Hoje em dia, Paris tem a força multicultural de um império, de passado colonialista, é bem verdade, mas que faz dela uma das capitais culturais do mundo, se não a maior de todas.

A cidade é deslumbrante como a mais sedutora das mulheres. Extremamente feminina, elegante, simplesmente bela. Mesmo debaixo de neve, de chuva, ventania e frio de doer, ela te seduz, te envolve, e você a admira e releva tudo, todas as suas sacanagens climáticas, os preços absurdos, o mau-humor parisiense. Tudo é perfeitamente compreensível! Cada esquina te leva a um lugar mais lindo, mais surpreendente. Há lugares fantásticos pra se perder em Paris por pelo menos uns cinco anos. E, de toda a cidade, os telhados de cor entre preto acinzentado e azul-escuro são a minha lembrança arquitetônica mais forte. Aquele chapeuzinho dos edifícios é a marca registrada da minha Paris.

E os parisienses... Péssimos na minha primeira vez, agora, sete anos depois, redimiram-se. E como! Perdôo-os, sem mágoas. Amabilíssimos, pacientes e até tentando falar inglês. Muitos já falam, a juventude em peso fala. Parece que eles não querem se identificar com aquela França anacrônica e xenófoba, que achava que o tempo passa e as coisas devem permanecer iguais. Conheci pessoas muito bacanas, nessa de diálogo bilíngüe. Porque o medo da bronca, admito, continua! Sempre tentava falar primeiro em francês; depois de pegar amizade, relaxava no idioma. E encaixava no meu texto expressões para mim memoráveis, como bas fond, bizarre, décadence avec elégance, ménage a trois, mise en scène, faite attencion!...

E como flertam os parisienses!... Uma coisa deliciosa, leve, natural... a cidade convida, pelo menos aqueles que têm tempo ou alma para ser flâneur (quem fez Estética com Denilson na UnB sabe)... dispensável comentar, disso todo mundo entende...

Mas como diria uma amiga minha, “nem tudo é perfeito. Nem em Paris”. Há, sim, uma raiva contra o sistema mal contida, perceptível nos lugares mais afastados. Muita pobreza e muitos imigrantes sem perspectiva de futuro, e é só sair um pouquinho do centro pra ver verdadeiras favelas, e pessoas vivendo de maneira precária. É preciso muito cuidado e saber aonde ir. Especialmente mulheres desacompanhadas, que são religiosamente abordadas por tipos estranhos, e eu vi umas figuras que não deixam nada a dever pros malandros brasileiros! Curta Paris, saboreie-a, mas não se deixe embriagar pelo deslumbramento.

Mas, por favor, vá!, vá!, vá!, como um muçulmano que deve ir a Meca ao menos uma vez na vida, se tiver a oportunidade. Todo mundo sabe e tem em si um pouco de Paris, do que nasceu, se desenvolveu, aconteceu ou simplesmente passou por lá. E eu, bem dramática, ainda digo mais: só vou ser uma mulher plenamente realizada depois de morar lá. E zéfini.