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segunda-feira, 28 de abril de 2008

Uma oreia na F1

Trabalhei na Formula 1 aqui em Barcelona, no fim de semana passado. Foi preciso passar por um casting em pleno domingo e agüentar, por um tempo beeem longo, todo o falatório da dona da empresa que nos contratou.

Um personagem, a tal dona. Italiana crescida na Alemanha, fluente em cinco línguas (das que pude contar) e uma megera com os próprios auxiliares. Irritadíssima, grosseira e superficial nas infos mais importantes pra nós, deslumbradinhas com a possibilidade de trampar no Circuit de Catalunya.

Não, eu não era uma das modeletes (muito) bem pagas pra ficar segurando guarda-sóis em cima dos pilotos. Eu era, sim, uma oreia, que tinha que acordar às 5h30 da matina, pra poder pegar o trem das 6h30 para Montmeló (a 20 min de Barna) e de lá pegar um ônibus, ou uma carona (nós, brasucas esclarecidas, lançamos a moda do autostop) para chegar às 7h e assim não ter nenhum centavo de nosso “rico” salário descontado de maneira inclemente. Todas nós vendíamos camisetas, bonés, camisas e outros souvenires da F1 e sonhávamos com labutas de mais de 10 horas diárias para poder sacar muito $$$.

Confesso que, por um lado, foi divertido. Conheci praticamente todas as brasileiras vivendo aqui na cidade, e demos muita risada, de tudo. Amaldiçoamos todos os dias o fato de levantar com as galinhas pra só começar a cobrar umas três horas depois. Comparamos os uniformes mais bonitos (Ferrari disparado). Escolhemos as barracas mais pavorosas (a minha, de produtos oficiais de Fernando Alonso, parecia um comitê de candidatos do PSDB). Nos embasbacamos com a quantidade de $$$ gasta em bonés e camisetas que só estampavam um monte de marcas, numa espiral de consumo surreal. Uma entrada para as cadeiras custava cerca de­ 350 euros (faça você mesmo o câmbio), e tinha gente saindo pelo ladrão todo santo dia.

Não, ninguém conheceu pilotos nem mecânicos encantados. Vimos, sim, um monte de gente estranha (frikis, como dizem por aqui), consumindo sem nenhum critério e com muita avidez. Poucas mulheres, poucas bonitas (não vi nenhuma “linda”). Muitos homens, e muitos com os filhos, esses sim, umas gracinhas. Nenhum bofe-escândalo. Como se a quantidade de euros nos bolsos servisse para compensar várias outras qualidades. Muitos peões, ao menos em comportamento. Chegam sem camisa, barrigões de fora, meio bêbados, meio deploráveis. Nos dias antes da corrida, vão em bandos, levando isopores, para encher a cara e depois dormir roncando nos bosques do lugar. O que tivemos que posar para fotos, como macaquinhas de circo... e isso sem tirar o sorriso do belo rostinho.

Escutar o barulho ensurdecedor dos motores dá um certo tesão, na primeira vez. Logo, vira um pesadelo. Interessante ver os carros fazendo as voltas a toda velocidade, mas depois da quinta é entediante.

No fim, a grana é desproporcional ao esforço feito. É muito mais pelo glamour, pela experiência de ver por dentro como é uma Formula 1. Tudo muito rico, muito ostensivo, mas vazio. Never again.

Preços:

Uma camiseta Fernando Alonso (adulto): € 38

Um casaco : € 115

Um boné: € 30

Uma caneta: € 4

Uma caneca: € 12

Um expresso pequeno: € 4

Uma cerveja: € 12

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