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terça-feira, 11 de maio de 2010

Pelo bem da mentira

Pela primeira vez tive a oportunidade de ir ver um filme cujo diretor eu conheço pessoalmente. Mentiras Piadosas (2009), do meu professor argentino de roteiro, Diego Sabanés, é a adaptação livre de um conto de Julio Cortázar, chamado “La salud de los enfermos”. Pablo, o caçula de uma família bastante unida, decide ir embora de Buenos Aires, nos final dos anos 50, rumo a Paris, para tentar a vida como ”tanguero”. O irmão, Jorge, é o único a saber que ele não tem a mínima intenção de voltar. Mas como a matriarca encontra-se muito doente, e Pablo não dá nenhum sinal de vida, toda a família se engaja numa trama de mentiras “do bem” para protegê-la. Inclusive a namorada de Pablo, Patricia, que em pouco tempo sente que foi abandonada, mas que participa, a princípio espontaneamente, da trama, com a óbvia esperança de que ela se torne realidade.


Foi muito bacana conferir que tudo aquilo que Diego passava e repisava sobre os cuidados com a escritura de um roteiro consistente foram seguidos à risca por ele mesmo, o que funciona de maneira redonda, sem necessidade de quase ou nenhum ajuste. O filme, que teve, possivelmente como principal ponto fraco, uma distribuição beeem modesta na Argentina e aqui na Espanha (ou seja, talvez nem chegue ao Brasil), foi muitíssimo bem-cuidado em seus menores detalhes, com uma história bem narrada, belamente ilustrada e sem lapsos sobre como uma mentira contada com esmero e convicção pode chegar a se converter em realidade. O final beira o fantástico, ao estilo dos contos de Cortázar, que por sua magnífica capacidade de abstração literária tornava quase impossível a tarefa de transcrever um conto seu para a grande tela.


                                           Pablo, que se mandou pra Paris e nunca mais voltou
                                   

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