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terça-feira, 23 de outubro de 2007

Por que ver "Do outro lado", de Fatih Akin

O multiculturalismo é o argumento primordial do cineasta turco-alemão Fatih Akin. Claro que, por haver vivido alguns anos na Alemanha, a temática da imigração turca no pais é muito familiar para mim. Ainda que sejamos muito diferentes culturalmente, o que nos aproxima é justamente a experiência de ser estrangeiro, de viver em uma sociedade a qual você observa de fora, e na qual é percebido com alguma distância. Fiquei em estado de choque quando assisti „Contra a parede“, há dois anos. Apesar de ser ficção, a história é muito real e humana, trata de amor, de solidão, encontros e desencontros de maneira crua, direta e sem maquiagem, seguindo a densa estética do diretor.

Akin tem engatilhada uma trilogia que abarca o amor – tema de „Contra a parede“ - , a morte e o diabo. „Do outro lado“, recém-lançado na Alemanha e apresentado na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é a segunda parte do projeto.

Ali, turco há anos radicado na Alemanha conhece Yeter, uma prostituta, também de origem turca. Já idoso, e há anos viúvo, ele propõe a ela viverem juntos. Ele tem um filho, Nejat, nascido na Alemanha e professor universitário, que a princípio vê com desconfiança a união do pai com uma prostituta, mas que acaba afeiçoando-se a ela ao saber que ela sustenta uma filha, Aytan, já adulta, na Turquia.

Yeter morre sem saber que sua filha estava sendo perseguida politicamente em seu país, e que, por essa razão, acabou chegando ilegalmente à Alemanha. Enquanto isso, Nejat viaja à Turquia para tentar encontrar a moça, com o intuito de seguir financiando seus estudos.

Em Hamburgo, Aytan conhece Lotte, uma alemã que vai fazer de tudo para ajudá-la a obter asilo político, e sua mãe, que acompanha, apreensiva, a forte amizade entre as duas.

Após um ano na Alemanha, Aytan tem seu pedido de asilo negado, e é mandada de volta para a Turquia, onde será presa. Lotte viaja então até a Turquia para tentar ajudar a amiga, mas acaba morrendo num acidente. O resto do filme desenvolve-se a partir das mortes das duas mulheres, que, longe de significarem o fim, funcionam como mola impulsora para atitudes de amor, de aceitação e de respeito entre pessoas de diferentes culturas.

O filme tem um roteiro excelente, bem-amarrado, de autoria do próprio Akin, e foi premiado em Cannes este ano. Uma história sobre as conseqüências da perda e da morte na vida de seis pessoas, em que nada ocorre por acaso; mas, paradoxalmente, é justamente o acaso quem as aproxima, e também, as consola, abrindo-lhes novos caminhos de vida.

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