Saí de casa ainda de tarde, sem saber o que me esperava.
Dia de cinema mais barato, aproveitei pra ver logo dois filmes de uma vez. A última sessão acabou depois da 1h, metrô já fechado e eu tive que correr mais que fugitivo de presídio pra pegar o baú noturno. O motorista, gente-boa, liberou minha passagem e eu sentei, ainda ofegante horrores. Quando dou por mim, estou indo pros lados da puta-que-pariu, totalmente na direção errada. Peguei o baú no sentido contrário, desci no meio do caminho e subi andando toda a Veteranenstrasse e a Kastanienallee, pra chegar na parada do bonde que me deixaria na porta de casa.
Na parada, já 2h da matina, vejo que meu bonde só chega em meia hora. Vi uma baladinha de reggae ali por perto e resolvi dar uma olhada. Cheguei falando inglês e a hostess, simpática, me perguntou de onde eu era e se eu conhecia baile funk. Entrei, senti a vibe e resolvi deixar a noite me levar.
Arrumei mota rapidinho, com uns meninos de Gâmbia, que falam um inglês dificílimo! Claro que, tendo saído de casa ainda de tarde, eu não estava assim, digamos, muito gata. Mas a música estava boa e, eu, já em transe, embarquei numas viagens necessárias, divagando sobre minha capacidade de prever acontecimentos... mal sabia eu!
Estou lá sentada, na minha, esquivando-me de uns comédias e bebendo minha cerveja, quando vejo bem na minha reta um menino beeem meu número. Perfil marcante, barriguinha sexy, sozinho, dançando bem bonitinho. Pensei na hora que, ali, pra mim, ele era o cara, e que a gente ia acabar se conhecendo. Foi como receber um facho de informação, assim, diretamente, do nada.
Não deu outra. Fiz meus moves pra ir chegando perto dele, e ele fez a mesma coisa. Mesmo baranga, eu dava tudo de mim dançando. Vi um grupo de meninas novinhas, bonitas, dançando lá na frente, que me fizeram lembrar de mim mesma, em idade mais tenra. Jogadas, divertidas, dançando se medo de ser sexy, batendo com os copos nas mesas quando rolava algum sucesso, e tirando de tempo os caras mais sem noção. Claro que essas figuras ótemas ficaram até o fim da festa, assim como eu.
Fui deixando as coisas fluírem. Sabia que eu e o bofinho ainda íamos nos cruzar, naturalmente por iniciativa minha, já que eles aqui são mais oldschool, ficam naquela de cercar, dando voltas. Pedi um cigarro pra ele e pra outro cara, que também já tava na marca do pênalti... nessa tromba em mim o Brother Culture, um figura de Londres que tocou ano passado em Brasólia. Perguntou se eu queria beber algo –óvibio! - e eu me lembrei dele. Trocamos altas idéias, ele me contou dos filhos de não sei que figura bíblica com Raquel, nascidos em fevereiro e março, ou seja, piscianos, como nós dois. Foi realmente uma onda encontrar com o cara aqui em Berlim, numa noite totalmente espontânea. Um barato, já um senhor rasta, falando com sotaque britânico... reclamamos da sem-gracice germânica, contou que adorou os shows no Brasil no ano passado e que volta pra lá em novembro, ahaza bi! Ainda me convidou pra um estica no apê mega do ciccerone dele, mas necessário aqui mencionar que a falta dos dentes da frente não deixa ninguém mais atraente.
Numa noite com tantas figurinhas carimbadas, quem me faltava encontrar? Um muçulmano! Pedi um cigarro e perguntei de onde ele era. Ele explicou o lugar com uma sigla, que deve ser a da missão da ONU por lá. Do Sudão, o cara! Falei de Darfur só pra confirmar o lugar. Super-humilde, ofereci cerveja, mamãe, e ele, todo obediente, dizendo que a religião dele não permite. Contando parece até piada, mas o cara era um maometano praticante curtindo reggae com todas as forças!
Quando dou por mim, quem veio dançar por perto... o bofe-astral. De final, mesmo, porque até a chapelaria tinha fechado! Àquela altura, eu já entendia o bartender falar alemão com sotaque francês, e , quando vi meu deuso dançando break naquele modelo, resolvi chegar mais.
Claro que, de detalhes, sei muito pouco. Não conseguia mais disfaçar meu alemão e misturava tudo. Nome? Risos, não sei até agora se ele era gráfico ou grafiteiro. O estado ébrio de ambos gerou certa química, mas aonde fomos parar...
Eu podia jurar que o menino era um grafiteiro francês vivendo em Berlim, creio que bolei um personagem. Entendi que íamos pra casa de uns amigos dele, entramos num prédio e ficamos nos pegando nas portas dos apartamentos. Eu jurando que aquilo era preliminar, achava a todo minuto que a gente ia entrar em alguma casa... e nada.
Foi uma suruba extraordinária sabe-se lá a que horas na rua, em portas alheias. Tentamos de tudo, deitados, eu por cima dele, de ladinho... no auge da insanidade vejo passar meu bonde na rua, subimos sem nem saber pra onde íamos. Resolvi trazer o bofe pra casa. Já tinha criança indo pra escola, ainda no escuro, o que me fez lembrar sem nenhuma saudade do meu tempo de intercâmbio na Holanda. Claro que, quando chegamos em casa, apagamos.
Ao acordar de manhã vi monte de sangue, nas nossas roupas, nos nossos tênis, cinto dele, casacos... e não, eu não era a causadora daquilo! Ainda fico tentando me lembrar se fomos parar bem em cima de um despacho satânico, mas estava tudo tão escuro...
Deu meio-dia, ele ainda roncando... Levantei para ir ao banheiro e nessa o moço acorda no susto, dizendo tinha que ir trampar às 9h! Pelo jeito que levantou, nem devia calcular o tamanho da loucura da noite anterior. O cara simplesmente perdeu o celular, o casaco e talvez o emprego! Depois dessa ainda dei graças ao perceber que havia perdido só meus brincos-Elza da H&M. E tudo por conta de um ônibus errado...
Pablo González-Trejo, a Cuban-French-American artist, has been navigating
the complex terrains of identity, nature, and the infinite since
establishing h...
Um comentário:
Aventuras de tiaaaa na Alemanha! Olha esse diario da demais. Em breve e nois ai nas zorapa, agora que sou italianinho. Varios bafos sinistros e palas insanas. aguar-me. Apenas pegue leve pra sobreviver ate minha chegada. Beijos, do seu irmão titiao.
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