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terça-feira, 8 de abril de 2008

A minha Paris


Eu era daquelas pessoas que achava mais chique dizer que não gostava de Paris. Não era bem desgostar, mas sim cagar pra Cidade-Luz. Não estava nos MEUS planos ir a Paris.

Como não sou totalmente imune aos apelos da civilização, acabei indo há 7 anos, pela primeira vez, com um grupo de cinco amigas, em agosto. Leia-se, foi la fin de la piqué. Não recomendo pra ninguém. Como turista, passei por todas as piores situações possíveis juntas!

Voltei à Paris agora, com menos gente, outono. Entro no metrô, cheio, como em qualquer metrópole, pessoas de várias etnias. Olhando pela janela, por todo o caminho, do aeroporto Charles de Gaulle (Gigante! Tenho loucura por aeroportos imensos) até o centro da cidade, há graffiti. Alguns bonitos, outros feios, mas uma linguagem que eu reconheço em qualquer lugar. Começa uma leve simpatia por uma Paris bem distinta daquela de cartão-postal, de torre Eiffel e de suas filas intermináveis de turistas, e muito próxima do que me atrai.

(Aqui em Barcelona também vivemos o calvário do turismo. Turistas são os desocupados que ficam andando feito lesmas na sua frente quando você tem quinhentas coisas pra fazer. Atrapalham o trânsito no metrô. Jogam os preços lá pra cima. Passam por você, em hordas de felizardos que podem sair pra tomar umas e se divertir até de manhã, enquanto você tem que chegar em casa, cozinhar e dormir, pra levantar cedo no dia seguinte. Turista é o maior paradoxo. Péssimo de ver, mas muito bom de ser!)

O graffiti me fez lembrar que, afinal de contas, eu estava em Paris!, a segunda maior cidade da Europa. Ia ver uma cultura de rua respeitável, galerias de arte underground e nem tanto, talvez deparar com uns gatinhos fazendo le parkour no meio da rua, respirar os melhores ares da moda, ver muita gente all stylez e escutar, invariavelmente, muita, muita música boa. E de fato fiz de tudo: além do que citei acima, vi Bounty Killer em um cabaré, dancei muito electro francês, me joguei no bootleg rockeiro e ainda balancei muito com hip hop beeeem oldschool!

Mas sou obrigada a admitir que, uma vez lá, é MUITO difícil fugir do roteirão-pra-gringo-ver. Paris não surgiu ontem, tem uma história de séculos, e isso é simplesmente o máximo! Quase tudo e praticamente todo mundo da civilização ocidental passou por lá. Paris surgiu no meio do rio Sena, em uma ilhazinha que começou a ser povoada por volta do ano 300! Hoje, a Île de la Cité é o centro centralíssimo da cidade, onde está, por exemplo, a catedral de Notre Dame. Juro que é impossível não se maravilhar com a beleza simples, mas imponente, daquelas torres brancas de arquitetura gótica, tão singelas e ao mesmo tempo tão sólidas, erguidas no século 14 (ainda em plena Idade Média).

Paris é fodona porque, tudo aquilo que a gente vê a vida inteira em imagens, e que formam o nosso imaginário sobre ela, corresponde a uma verdade ainda melhor do que esperamos encontrar. Paris ultrapassa o sentido de cidade, é quase humana, com suas idiossincrasias e caprichos. Respirar o ar daquela cidade tem, em todos os sentidos, um certo preço, e isso não sem motivo.

Ela é realemtente "all that": o desbunde dos Champs Elysées, do Arco do Triunfo, das vitrines Chanel (minhas preferidas), dos jardins de Luxemburgo e Tulherias, o Partenon, o Palácio do Eliseu, La Défense (Paris “moderna”, do quadradão vazado, uma passada de lindo), o Louvre-pai de todos, o Centro Georges Pompidou, xodó da cidade (Bubu!), a Sacre-Coeur (lembra o Taj Mahal), as incontáveis ruas, casas, cafés, ateliês, museus, universidades, consultórios por onde passou grande parte da intelectualidade e da arte ocidentais, e o lugar em que foram firmados os alicerces de nossos valores modernos e pós-modernos. Hoje em dia, Paris tem a força multicultural de um império, de passado colonialista, é bem verdade, mas que faz dela uma das capitais culturais do mundo, se não a maior de todas.

A cidade é deslumbrante como a mais sedutora das mulheres. Extremamente feminina, elegante, simplesmente bela. Mesmo debaixo de neve, de chuva, ventania e frio de doer, ela te seduz, te envolve, e você a admira e releva tudo, todas as suas sacanagens climáticas, os preços absurdos, o mau-humor parisiense. Tudo é perfeitamente compreensível! Cada esquina te leva a um lugar mais lindo, mais surpreendente. Há lugares fantásticos pra se perder em Paris por pelo menos uns cinco anos. E, de toda a cidade, os telhados de cor entre preto acinzentado e azul-escuro são a minha lembrança arquitetônica mais forte. Aquele chapeuzinho dos edifícios é a marca registrada da minha Paris.

E os parisienses... Péssimos na minha primeira vez, agora, sete anos depois, redimiram-se. E como! Perdôo-os, sem mágoas. Amabilíssimos, pacientes e até tentando falar inglês. Muitos já falam, a juventude em peso fala. Parece que eles não querem se identificar com aquela França anacrônica e xenófoba, que achava que o tempo passa e as coisas devem permanecer iguais. Conheci pessoas muito bacanas, nessa de diálogo bilíngüe. Porque o medo da bronca, admito, continua! Sempre tentava falar primeiro em francês; depois de pegar amizade, relaxava no idioma. E encaixava no meu texto expressões para mim memoráveis, como bas fond, bizarre, décadence avec elégance, ménage a trois, mise en scène, faite attencion!...

E como flertam os parisienses!... Uma coisa deliciosa, leve, natural... a cidade convida, pelo menos aqueles que têm tempo ou alma para ser flâneur (quem fez Estética com Denilson na UnB sabe)... dispensável comentar, disso todo mundo entende...

Mas como diria uma amiga minha, “nem tudo é perfeito. Nem em Paris”. Há, sim, uma raiva contra o sistema mal contida, perceptível nos lugares mais afastados. Muita pobreza e muitos imigrantes sem perspectiva de futuro, e é só sair um pouquinho do centro pra ver verdadeiras favelas, e pessoas vivendo de maneira precária. É preciso muito cuidado e saber aonde ir. Especialmente mulheres desacompanhadas, que são religiosamente abordadas por tipos estranhos, e eu vi umas figuras que não deixam nada a dever pros malandros brasileiros! Curta Paris, saboreie-a, mas não se deixe embriagar pelo deslumbramento.

Mas, por favor, vá!, vá!, vá!, como um muçulmano que deve ir a Meca ao menos uma vez na vida, se tiver a oportunidade. Todo mundo sabe e tem em si um pouco de Paris, do que nasceu, se desenvolveu, aconteceu ou simplesmente passou por lá. E eu, bem dramática, ainda digo mais: só vou ser uma mulher plenamente realizada depois de morar lá. E zéfini.

3 comentários:

confrontosoundsystem disse...

amei! amei! amei! bom demais cherrie!

Pat disse...

Confirmando o já dito: devias se jogar nessa de travel writer! E nessa que já se joga - viajar! E deixar a gente ficar viajando, assim, um pouquinho contigo.
Ao contrário de ti, sou status quo de dar dó, e sempre quis ver luz em Paris. Agora quero mais.

MCO disse...

Nêga.... já estou com as malas prontas... deixe eu juntar um dinheirinho que já me mudo!!!

Márcio