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terça-feira, 29 de julho de 2008

Serve-se em Espanha

Voltei a trabalhar há duas semanas como vendedora da Adolfo Domínguez, uma cadeia espanhola de lojas ao estilo Zara, só com preços um pouco mais caros e (muito) menos clientes ensandecidas, daquelas que deixam tudo de pernas pro ar.

Ao menos teoricamente, a loja deveria seguir o padrão de vendas brasileiro, de funcionários que se empenham por causa das comissões agregadas, que ajudam a engrossar o ralo caldinho do salário mensal.

Teoricamente, porque a única pessoa que eu vejo fazer contato com os clientes sou eu. Meus colegas preferem abrir caixas, alarmar e dobrar roupas, passar o dia inteiro enfurnados no depósito, se for necessário. Não parecem felizes, não tentam ser amáveis, não sorriem, não fazem gentilezas e nem nenhum tipo de social. Chega a ser engraçado! Quando chega um cliente perto, ou insinua ter alguma dúvida, eles praticamente fogem.

No Brasil há uma tradição de serviços made in U.S. and A., em que o bom atendimento é fundamental para as vendas. Aqui, não. Mal e mal, tem sequer um atendimento! Pra ser sincera, até hoje não consegui entender por que as pessoas que trabalham no terceiro setor, aqui, na Espanha, são tão grosseiras. Acho que, por terem as temidas “jornadas partidas” (vai de manhã, descansa à tarde e volta à noite), e/ou darem duro principalmente nos fins de semana, os vendedores, garçons e atendentes espanhóis se sentem excusados para destratar as pessoas, na maior sem-cerimônia.

Um dia em que saí para comer com uns dez amigos, a menina que me servia deixou metade do meu sanduíche cair em cima da mesa, virou as costas e tentou sair andando, como se ninguém tivesse visto tamanha cara-de-pau.

Claro que eu chamei a menina na hora, em voz bem alta pra evitar que ela se fizesse de surda, e perguntei o que significava aquilo. Muito sem jeito, mas ainda assim arrogante, ela disse que estava indo pegar guardanapos pra recolher o sanduíche e colocá-lo de volta do meu prato. Eu olhei pra ela com uma cara de "como é que é, fofinha?", que nem precisei dizer nada. A madame deu uma bufadinha de raiva e saiu pisando duro. Sorte nossa que nesse dia eu estava muito, muito calma.

Daí ela volta com um sanduíche novo. Faz certo ruído ao me deixar o prato, pra expressar bem sua irritação, dá uma pirueta e sai rápido. Esqueceu os guardanapos, a peranha. “Me chama o gerente!” ainda me passa pela cabeça, mas depois caio em mim. Que estoy en España, coño! Resolvo ir pegar logo os guardanapos no balcão pra não me chatear.

A garota está no balcão, ai ai ai, paciência. É pra ela mesmo que vou pedir. Educadamente.

_“Você pode me dar uns guardanapos, por favor?

_“Como você pode ser tão grosseira com uma pessoa que está trabalhando?

_Ahn?"

Fiquei passada! Então eu é que fui grosseira com ela? Ela derruba minha comida, não se desculpa e ainda fica puta. Nunca havia visto nada igual.

Disse justamente essa frase aí de cima. Ela ainda tentou argumentar, mas por algum estranho motivo eu mantive a classe e dissipei a mala onda. Ela estava terrivelmente constrangida, sabia que tinha pisado na bola, e aquilo foi suficiente. As pessoas sabem quando oferecem algo de bom aos outros. E, na boa, ser simplesmente educado com as pessoas nem é tão difícil assim.

Sempre que vou fazer compras, ou comer ou beber fora, procuro ser o mais amável possível com quem me atende, independente do trato inicial. Distribuir gentileza desarma os mais carregados e surpreende as pessoas de uma maneira positiva, muitas vezes quebrando obstáculos bobos de mera timidez.

No trabalho de vendedora procuro tornar a coisa menos efadonha e mais interessante tratando as clientes exatamente como eu gosto de ser tratada. Prefiro ser gentil com pessoas que me garantem um extra no fim do mês do que passar o dia todo trancafiada num porão reajustando preços. Com certeza, e na medida do possível, me sinto mais útil assim.

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