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sábado, 18 de outubro de 2008

Feliz

“Happy-go lucky”, último filme do inglês Mike Leigh, é simples, muito simples. Um continho sobre a felicidade, exatamente como informa o cartaz do cinema.

A estrutura do filme é a de um conto: uma história linear, um recorte da vida de Poppy, vivida por Sally Hawkins (prêmio de melhor atriz em Berlim esse ano), perfeita no papel. Poppy é uma garota de 30 anos, que vive com a namorada, Zoe, trabalha como professora primária e aproveita seu tempo livre para se divertir.

Um dia a bicicleta de Poppy, sua grande companheira, é roubada, e ela decide finalmente tomar classes de direção. O instrutor, Scott, é um cara durão e pessimista, muito diferente das pessoas de seu entorno. Apesar disso, ela não desanima e nem perde a própria vocação, de aceitar e amar os outros, sem perder o rebolado nas situações mais difíceis.

A primeira parte do filme tem cenas de humor de uma sutileza deliciosa, que injetam uma sensação de felicidade no espectador. Logo, a capacidade de Poppy de não perder a calma em nenhuma situação irrita um pouco, justamente porque sabemos como é difícil manter-se positivo e bem-humorado 24 horas por dia, todos os dias da semana. Poppy simplesmente não desiste: extrai néctar de qualquer ocasião, porque tudo, para ela, é aprendizado e oportunidade de exercitar sua crença na felicidade e na importância do amor como principal engrenagem do mundo.

Poppy entende (ou procura entender) todo mundo. Adora a irmã mais nova, às voltas com problemas típicos da sua idade, desconcerta Scott durante seus rompantes de amargura comovente, engaja-se pessoalmente na recuperação de um aluno problemático.

E se delicia com a banalidade da vida: não deixa de sorrir nunca. Pula na cama elástica como se fosse uma menininha, sente na alma a paixão do flamenco, que descobre por intermédio de uma amiga (uma das melhores seqüências do filme), diverte-se com a gravidez da outra irmã chatinha e até se envolve com um rapaz interessantíssimo, sem deixar Zoe (!).

Saí do filme pensativa, divagando sobre essa opção pela felicidade. É tão difícil aplicar constantemente um pouco de amor naquilo que fazemos, ter carinho sincero pelas pessoas com quem nos relacionamos. Um dos meus grandes objetivos na vida é me tornar uma pessoa cada vez melhor, não perder tanto a paciência com os mais velhos nem com os mais novos, ser tolerante com todos os pontos de vista, rir de qualquer situação mais embaraçosa.

Chego em casa e, ao ler o blog de minha amiga Patrícia (www.eufalocomestranhos.blogspot.com), vejo que não estou sozinha! Exatamente como Poppy, ela também quer tentar o sorriso todos os dias, pois vai que justamente hoje dá certo? Tinha também um pensamento que dizia que nossa atitude diante da vida deve ser a mais fluída possível. Como um rio, sem se desviar do curso da gentileza, da boa ação, da positividade. Não é porque fulano me respondeu de mau-humor que eu também devo fechar a cara, pelo contrário. Não podemos nos deixar abalar pelos obstáculos, nem nos sentir atingidos pessoalmente pelos "problemas" dos outros.

É mais difícil, mas também é mais gratificante tentar mudar o mundo, plantar todos os dias a sementinha do amor no que fizermos. Tudo se transforma. A vida sempre terá cor, mesmo nos momentos mais duros. Ser feliz é simplesmente fazer a sua parte no que diz respeito à harmonia do mundo e não se deixar afetar por aquilo sobre o que não se tem controle, nem se afastar do caminho do bem, mesmo nas horas mais dolorosas. Sempre poderemos fazer alguém abrir um sorriso, ou no mínimo refletir sobre sua própria maneira de encarar a vida. Podemos influir mais no mundo do que temos idéia. A existência, tão vaga mas ao mesmo tempo tão complexa, passa a fazer realmente sentido quando mergulhamos de cabeça na vida. Viver sem amar não é viver. E sem amor, eu nada sou.

Um comentário:

Pat disse...

Vamos fazer um roteiro?