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quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Química

O que ocasiona o encontro de duas pessoas cuja probabilidade de se encontrarem no mundo é bem pequena?


Dois corpos desconhecidos, que conhecem, porém, a linguagem do corpo. Querem se comunicar, se entender, trocar impressões e sensações. A noite já transformada em dia, pessoas transfiguradas pelo que consomem e uma leve embriaguez no ar que emana sexo.


Ela se encosta na borda da pista, esperando ver alguém que lhe interesse. Não bebe nem fuma, já fez o bastante por toda a noite. Concentra-se na pista de dança, prefere ver as pessoas, quer escolher alguém da multidão.


Ele deixa a companhia por um instante, diz que vai ao bar, mas sai para dar uma volta. Não quer nada com a garota, apesar de ela ser simpática. "Falta faísca", ele diria aos amigos.


Ele a vê na pista aparentando certo desinteresse, talvez cansada, e decide chegar mais perto. Pergunta se ela é daqui, ela responde com frieza que não. Ele não se abala com a atitude defensiva dela, acha interessante, de certo modo.


O gelo inicial é de praxe, serve para testar os mais inseguros. Ela o observa de cima a baixo, acha-o atraente e resolve abrir um pouco a guarda. Nem todo homem consegue se aproximar de maneira assim, tão assertiva.


Em pouco tempo beijam-se calorosamente. Ambos estão satisfeitos por obter uma possibilidade de sexo. Já são oito horas da manhã, não há mais o que esperar. Compram mais um ***, entram em um dos reservados da discoteca para se conhecerem melhor e vão para casa.


Possivelmente não há sexo melhor do que assim, com um estranho atraente, embalado por ***, já de dia.


Os dois transam, bebem cerveja, fumam e consomem o que ainda há. Fazem isso por horas, até a exaustão.


Adormecem juntos, já de tarde, e despertam à noite. Transam mais um pouco, há bastante intimidade entre os dois, que, no entanto, não se conhecem. Talvez por efeito das *** sintam-se um pouco mais emotivos, abraçam-se e beijam-se sem parar, quase uma necessidade vital.


Eles chegaram juntos à casa dele às 10h da manhã de domingo. Ela foi embora às 19h da segunda-feira. Ele não foi trabalhar, passaram o dia de ressaca, conversando sem parar.


Na quarta-feira eles saem de novo. Dessa vez tomam ***, ela fala pelos cotovelos, quer se mostrar, atrair ainda mais a atenção dele. Ele não esconde que ela lhe interessa, ouve-a atentamente, é carinhoso.


Mais uma vez vão para a casa dele e transam até dormirem, já de tarde. Quando acordam conversam sobre a noite passada, sobre como se divertiram e se divertem juntos. Falam de sentimentos, contam segredos, parecem bem juntos. Ela vai para casa na sexta, quando ele sai para o trabalho.


Ela recebe a notícia de que tem de ir embora em breve. Fica um pouco triste quando pensa nele, que poderiam passar um pouco mais de tempo juntos. Mas sabe que uma coisa está intrinsecamente ligada à outra. É a Lei de Murphy, aplicada aos bons momentos da vida. Aproveitar o tempo que resta.


Encontram-se no sábado, depois do futebol dele. Ela gosta de homens que gostam de futebol, mas nunca teve nenhum. No começo parecem um pouco tímidos,mas afinal saem para comprar os mantimentos necessários para passar, pelo menos, as próximas 24 horas juntos. Quase um ritual, já.


Bebem, fumam, alteram-se, fazem sexo. Sentem que precisam ficar juntos, abraçados, trocando carícias e energia. Seus corpos se encaixam com perfeição, não conseguem soltar-se, precisam respirar um o ar do outro. Não falam nada, ou muito pouco, lêem nos olhos do outro o que querem dizer. Querem a mesma coisa.


Saem de casa às 4 da manhã, mas o lugar está lotado. Preferem voltar pra casa, como apaixonados que não precisam de ninguém. Decidem estimular ainda mais a vontade de amar, ainda que isso não seja verdade.


Passam a noite e a manhã de domingo acordados, fascinados um pelo outro, e adormecem juntos. Ele não se lembra de passar tanto tempo com alguém apenas olhando nos olhos, e ela se sente um pouco ridícula quando pára pra pensar em como se comportam quando estão juntos. Mal se conhecem e se entendem apenas por olhares e gestos, com seus corpos.


Ela vai embora na segunda de manhã da casa dele, e não sabem quando vão se encontrar de novo. Parece até irrelevante, aliás. Importante é como preencheram-se mutuamente de afeto, sob o efeito ou não de substâncias, mas afeto legítimo.


Não sabem se estão apaixonados, o que na verdade não importa. O que conta é que estiveram juntos em uma sintonia muito especial. O destino se encarrega do resto da história dos dois.


*"Condições eróticas: regulamentam o desejo dos seres humanos e explicam as escolhas amorosas reiteradas e às vezes surpreendentes, que escapam à compreensão imediata" (Alberto Goldin, psicanalista)





Um comentário:

Pat disse...

Verdadeiro que chega dar saudade do que se esqueceu.

Chica, DJ Suave... te conheço, né?